quarta-feira, outubro 31, 2007

ao velho maia

(...)
as coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão

(c.d.a.)


hoje meu avô completaria 92 anos.

outro dia mesmo estávamos todos empolgados organizando a festa de noventa anos do maia. todos sabíamos que era já uma data digna de comemoração, mas duvido que alguém olhasse pra ele e sequer imaginasse que em dois anos ele não estaria mais aqui. ele próprio sugeriu, quando estávamos decidindo o destino da bebida que sobrou: "guarda pra festa dos cem!"

apesar da consciência racional do caminho natural da vida, simplesmente não era possível conceber a vida sem o meu avô! como assim?, a vida é isso: tem o céu, o sol, a água, o ar, e tem meu avô, ora bolas, e eles sempre vão estar aqui, isso é indiscutível, é óbvio!

e é divinamente verdade! se antes eu dizia a pessoas que perderam alguém que quem se foi sempre estará por perto, eu dizia por pura fé. hoje eu posso dizer com a certeza da experiência vivida, pois eu não só sei ou acredito que meu avô está sempre comigo, eu efetivamente sinto isso, de uma forma inexplicável, porém inquestionável.

não foram poucos os ensinamentos e exemplos que recebi dele. não foi pouca a influência dele na minha formação, no meu caráter, nos meus valores, no meu senso de humor e em tantas coisas mais. esse homem extraordinário, de quem tive a sorte de ser neta e com quem tive o privilégio de conviver por 31 anos, não poderia ter "ido embora" de outra forma.

o pássaro das asas cansadas se recolheu para repousar e fazer versos em companhia das estrelas que gostava de ouvir. mas até na sua despedida não deixou de ser generoso e poeta. e como eu posso me entristecer, se continuo escutando, aqui dentro, aquela risada tão dele que eu nunca vou esquecer? ouço sua voz, sinto ele por perto e, pra ser sincera, acho que ele continua aprontando suas graças.

que outra explicação teria pra justo hoje, enquanto eu andava a caminho do serviço, olhando para o céu e pensando nele, eu ver um miquinho brincando num poste??? um mico! todo serelepe e mó à vontade no meio daquela fiarada toda? só sei que nessa hora eu dei uma risada e esqueci de ficar triste...

Um comentário:

Cerol disse...

Que lindo, Clair!
Fiquei até imaginando você, toda moderna, de óculos Jackie O, com os braços cruzados, observando o miquinho.
Lindo o texto.