quarta-feira, agosto 30, 2006

amor feinho

eu quero amor feinho.
amor feinho não olha um pro outro.
uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
tudo que não fala, faz.
planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
amor feinho é bom porque não fica velho.
cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
(adélia prado)

quarta-feira, agosto 09, 2006

respeito à soberania cubana

(texto de moacyr scliar, na carta maior, que diz exatamente o que eu penso)

"Democracia & discursos

O regime castrista é um conjunto de erros e acertos, estes últimos referindo-se, sobretudo, à saúde, à educação e ao amparo social. Quem deve decidir o que é erro e o que é acerto é a população, que, a propósito, vai aprendendo com o processo democrático.


Em Cuba, vi Fidel Castro algumas vezes na televisão. Quando ele aparecia a programação da emissora estatal ia para o espaço, sobretudo porque ele falava horas a fio, um hábito que cultivou ao longo de muitos anos e que se revelava muito pior nos comícios, nos quais as pessoas ficavam de pé e, às vezes, desmaiavam por causa do calor. Fidel Castro aparentemente nunca deu importância para a duração de seus discursos. Dispunha do tempo de seus ouvintes como bem entendia.

Coisa de ditador? Muita gente achará que sim, que este é o termo a ser aplicado ao governante cubano: é o que faz, por exemplo, a Folha de S.Paulo. E há argumentos para isto: afinal, Castro está no poder há décadas. Mas nem todos vêem nele um ditador, mesmo em Cuba ou, talvez, principalmente em Cuba: o médico cujo trabalho, a meu pedido, acompanhei por um dia inteiro, no posto de saúde e na visita aos pacientes, referia-se a Castro como "nuestro comandante". Outro comandante, aliás, ele não conhecera: muito jovem, sempre vivera sob o regime castrista. Pelo qual tinha enorme admiração, apesar das dificuldades que enfrentava para cumprir sua tarefa.

O termo ditador em geral evoca a figura de um tirano sinistro e cruel. Na tela da tevê cubana Fidel Castro não era isto. O que se via ali era um senhor idoso, paternal, que falava sobre os temas mais diversos, dando conselhos sobre como - entre outras coisas - ordenhar vacas. Não era um Pinochet. E, a propósito, não era o mafioso Fulgêncio Batista, que governou Cuba de 1933 a 1959. Ambos gozaram do beneplácito do governo norte-americano, sempre cioso em defender a democracia (quando interessa).

Democracia traduz-se em renovação de governantes, e isto não acontece em Cuba. A explicação clássica, oficial, é o hostil bloqueio por parte dos Estados Unidos - de novo, um erro, cuja principal motivação é contentar os exilados cubanos em Miami. Seja como for, em todos estes anos, Cuba nunca esteve tão perto de uma mudança. Se e quando esta ocorrer, o desafio principal será não jogar fora a criança com a água do banho. O regime castrista é um conjunto de erros e acertos, estes últimos referindo-se, sobretudo, à saúde, à educação e ao amparo social. Quem deve decidir o que é erro e o que é acerto é a população, que, a propósito, vai aprendendo com o processo democrático. Aproxima-se o dia em que mais gente falará na televisão cubana. Sem gastar três horas para fazê-lo."

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veja também (e assine!) o manifesto pelo respeito à soberania de Cuba.