sábado, novembro 24, 2007

jô soares, racismo e censura

No dia 18 de junho, o escritor Rui Moraes e Castro foi entrevistado no programa do Jô Soares, por causa de seu livro "Memórias de um taxista". Segundo a resenha do livro, ele conta histórias que viveu como taxista no Brasil mas, principalmente, do período em que viajou por Angola, entre 1935 e 1975.

Na entrevista, Ruy descreveu hábitos e ritos sexuais ligados aos mumuilas, um grupo nômade africano. Jô começou a entrevista com o taxista com a seguinte frase: "Antes de falar do táxi, vamos falar da vida sexual angolana...existe uma relação entre os penteados e as vaginas?" Tanto o apresentador, quanto o entrevistado referiram-se aos hábitos e costumes culturais das mulheres do grupo de maneira preconceituosa e jocosa, utilizaram-se de ironias e fizeram alusão a pedofilia, além de terem mostrado várias imagens das mumuilas como se fossem aberrações. A platéia se divertia.

Quem quiser ver o vídeo com o trecho da entrevista, tem aqui. Vale a pena tb ler os comentários dos internautas.

A campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania" enviou para o Ministério Público Federal do Rio denúncia contra esse fato, o foi instaurado um processo judicial contra a Rede Globo, a fim de identificar se realmente houve desrespeito às comunicades negras.

Hoje, recebi um e-mail falando de um abaixo-assinado on-line solicitando um pedido de desculpas da Rede Globo. Ele será encaminhado para os ministros Tarso Genro, Nilcéia Freire e Matilde Ribeiro, como também para o Procurador Geral do Ministério Público do Rio de Janeiro. Para ler e assinar, clique aqui. Eu acho um pedido de desculpas pouco, posto que racismo é crime é dá cadeia, mas o abaixo-assinado não deixa de ser um ótimo instrumento de pressão para que os ministros e o MP não deixem esse caso cair no esquecimento.
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Enquanto o apresentador Jô Soares incita esse tipo de pensamento, não tem pudores em censurar outros assuntos. Segundo o blog Fazendo media , o programa exibido no último dia 15 cortou boa parte da entrevista concedida pelo delegado de Polícia Civil do RJ Orlando Zaccone, que havia sido gravada no dia 12:

"(...) A entrevista sofreu um corte no momento em que o delegado comentou o filme Tropa de Elite. O trecho simplesmente não foi ao ar. Segundo Zaccone, Jô Soares ficou irritado com o seguinte comentário: "Essa classe média que está batendo palma para o filme não agüenta um tapa de polícia na rua". O apresentador teria respondido algo como "Não concordo. Isso é sua opinião". Zaccone ainda foi polido. Em vez de responder o óbvio, que havia sido convidado justamente para emitir sua opinião, ainda tentou contemporizar, explicando que as palmas a que se referia eram para as cenas de tortura e execuções sumárias.

Quem assistiu à entrevista pôde notar que Zaccone levou Jô na flauta. Ao contrário da maioria dos programas, em que o apresentador costuma aparecer mais que o convidado, o delegado conseguiu oferecer uma boa exposição sobre o conteúdo de seu livro recém-lançado (Acionistas do nada - quem são os traficantes de drogas). Abordou com bastante propriedade a teoria da seletividade da pena e mostrou, através de experiência própria, que a esmagadora maioria dos presos por tráfico não são violentos. Além disso, ainda achou espaço para criticar a mídia: "Recentemente um jornal do Rio de Janeiro publicou uma foto de uma mulher armada, de shortinho e piercing no umbigo. Só que esse estereótipo não condiz com a realidade". Jô ficou meio atordado e o interrompeu: "Mudando de assunto, já que os convidados vêm aqui para falar de sua vida, me fala sobre quando você era Hare Krishna". Zaccone falou alguns segundos e logo deu um jeito de voltar a criticar a criminalização da pobreza. (...)"

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2 comentários:

shikida disse...

o jô já foi bem melhor. uma pena.

Clarice disse...

já mesmo.
ele devia ter parado há uns 15 anos atrás.
ele e o caetano... :-p