segunda-feira, janeiro 28, 2008

notícias de uma guerra particular

neste fim de semana eu assisti o documentário "notícias de uma guerra particular", sobre o tráfico de drogas no rio. o filme traz depoimentos de polícia, traficantes e moradores, e apesar de já ter alguns anos, parece que bombou recentemente de novo com essa febre de "capitão nascimento".

o filme é ótimo, pega no estômago em vários pontos e não se limita a mostrar apenas um aspecto e uma conveniente e supostamente fácil solução do problema, pelo contrário, mostra que o troço é tão complexo que realmente não há muita esperança.

dentre vários depoimentos interessantes, destaco uma das falas do chefe de polícia, que me chamou atenção quando ouvi, e mais ainda ao fim do filme, quando um letreiro informa que ele deixou o cargo pouco tempo depois das filmagens. escrevo de memória, mas ele diz mais ou menos:

"uma vez fui designado pra trabalhar em uma cidade pequena, no interior, que estava começando a ter problemas com a violência. nos primeiros meses foi ótimo, todo mundo gostava da gente. até um dia que o segurança de um supermercado deu um safanão num moleque que foi pego roubando e os dois foram autuados. a sociedade ficou revoltada! – 'mas o pivete é ladrão!', diziam, e a gente tinha que explicar: 'não importa, ele errou, mas agredir o infrator também é errado.' e autuamos os dois. a partir daí já começaram a nos olhar torto. quando um grande fazendeiro assassinou o caseiro e foi autuado também, minha equipe se foi completamente hostilizada pela cidade. ora, a lei é pra todo mundo! aí eu me pergunto: quem brada que quer uma polícia não corrupta consegue conviver com ela? está pronto para andar sempre dentro da lei e não tentar aliviar uma multa de trânsito, não dirigir bêbado, não arrumar esquema pra fugir do exército, não sonegar impostos, etc? a sociedade também é corrupta, a polícia no brasil, infelizmente, foi feita pra ser corrupta, porque ela não é pra proteger todo mundo, ela é pra proteger os ricos."

pausa para o mea culpa, nesse momento engolir ficou um pouquinho mais difícil. claro que ele não disse nenhuma novidade, mas é raro ouvir a verdade assim na lata. e olha que eu não sou rica e ainda eu me considero parte da minoria que ao menos tenta fazer tudo direito – se não dentro da lei, pelo menos dentro de certos princípios éticos ou morais, mas atire a primeira pedra aquele que nunca saiu da linha e tentou dar um jeitinho pra se safar.

conclusão: putz, que merda!

enfim, já que o grande mérito do rambo tropical foi trazer à tona o debate sobre o angu de caroço que virou a questão do tráfico e da violência, esse documentário é uma boa oportunidade de trazer o foco da discussão para o mundo real. eu recomendo.

Um comentário:

Anônimo disse...

o treco é complexo e complicado meeeeeesmo!