sábado, dezembro 08, 2007

clube filosófico dominical

"(...) Viera à luz recentemente uma nova obra sobre os limites da obrigação moral – um tema familiar, o qual sofrera uma reviravolta quando um grupo de filósofos resolveu argumentar que, em se tratando de moralidade, a ênfase devia recair não sobre o que fazemos, mas sobre o que deixamos de fazer. Era uma posição potencialmente severa, com implicações desagradáveis para quem procurava levar uma vida sossegada. Exigia mais vigilância e atenção às necessidades dos outros do que Isabel se sentia capaz. Também era uma posição inadequada para quem quisesse se esquecer de algo. Segundo tal ponto de vista, o ato de tirar determinada coisa da cabeça podia ser entendido como uma omissão deliberada e culpável."

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o livro da vez é "o clube filosófico dominical", de alexander mccall smith, que integra a sempre boa série policial da companhia das letras. o livro é bom, embora a pergunta que primeiro veio na minha cabeça – "mas um policial filosófico?" – realmente seja pertinente. eu adoro policiais, e nunca li um só dessa coleção que fosse ruim, mas posso dizer que achei esse um tanto quanto "deslocado", digamos assim. eu talvez não o publicasse nessa coleção.

o mote é a morte de um rapaz ao cair do balcão de um teatro. em sua queda, por um segundo seu olhar se cruza com o da filósofa isabel dalhousie, que se sente na obrigação moral de desvendar o que realmente aconteceu. mas praticamente não há polícia nesse policial, e o que acompanhamos é a investigação e as conjecturas de isabel em nome de uma responsabilidade ética que ela julga ter adquirido. apesar de o mistério a ser desvendado ser bem construído e prender a atenção, o grande barato do livro são as divagações filosóficas da personagem. confesso que isso me causou uma certa estranheza no início, talvez porque esperasse mais ação, mas depois que entrei no clima comecei a adorar!

ao longo da narrativa, isabel se vê diante de pequenos (ou não...) dilemas morais e/ou éticos, que a fazem pensar, sem prescindir do senso crítico e de suas próprias convicções, sobre o que disseram grandes filósofos a respeito do tema, abrindo questões interessantes que nem sempre se fecham. na verdade quase nunca, como na vida...

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o trecho que reproduzi acima foi um dos que me fez, tal como isabel, fechar por um instante o livro e os olhos e abrir a mente. não só pelo que diz, mas principalmente pelo que ME diz e pelo momento em que me diz. é curioso como muitas vezes recebemos recados valiosos dos lugares mais inesperados, como uma leitura despretenciosa para ajudar a esquecer o trânsito infernal do lado de fora do ônibus.

como se sentisse uma mão invisível me cutucando, seguida de um sussurro: "ei, você já pensou sobre isso? já tentou ver as coisas por esse lado?". obviamente, não adiantava procurar no ônibus pelo dono da voz sussurante, então fechei o livro e os olhos e fui procurá-lo no lugar mais provável. se achei respostas? não sei, mas acho que isso é o que menos importa... o fundamental é nunca deixar de formular perguntas.

2 comentários:

Clarice disse...

estou de castigo.

o mr. bloggerman me mandou uma mensagem dizendo que esse humilde espaço que uso para escrever coisas várias que me dão na telha, das mais sérias às mais inúteis, é forte suspeito de servir de fachada para uma quadrilha de blog-spammers malignos que querem dominar o mundo.

ele até me deu uma chance de implorar uma revisão do caso, mas não sem antes fazer uma pegadinha de me mandar prum link que sempre dava erro e pedia pra eu reportar o erro para não sei quem, não sei onde, não sei como.

horas depois, descobri que era só eu tentar postar no blog assim mesmo que um seu guardinha estaria lá porta do cafofo com um sorrisinho sacana de "arrá, te peguei!"

mas pelo menos, depois da zombaria, ele finalmente me indicou um botão para clicar, onde estava escrito "oh insuperável e supremo amado idolatrado salve salve mr. bloggerman, o senhor, que é tão poderoso, que domina o homem, que caça o lobo, que assusta o gato, que come o rato, que rói o muro, que tapa o sol, que derrete a neve... por favor, tenha misericórdia e solte o meu pezinho..."

cliquei e tô esperando.

aposto que meu pedido de clemência está sob uma pilha de papelada amarela enquanto ele se diverte jogando freecell. humpf.

Vais disse...

Olá Clarice,
"o fundamental é nunca deixar de formular perguntas."
Beijo